Chucha, sim ou não?
Um bebé a chuchar no dedo. Quantas ecografias não revelam esta imagem para grande surpresa dos pais? Muitas, certamente, a provar que a sucção é tão instintiva que os bebés a põem em prática ainda no útero materno.
É uma necessidade comum a todos os bebés, a forma que encontram de se confortarem. Sobretudo quando deixam o protector ninho em que viveram durante nove meses e chegam a um mundo que é novo e – há que reconhecê-lo – agressivo. E recorrem então a um calmante que lhes é familiar – um dedo, das mãos ou dos pés.
Como entra a chucha nesta relação? Através dos pais, naturalmente, que a incluem entre os artigos a levar para a maternidade. E que a oferecem ao bebé quando confrontados com o choro.
Quando se é mãe ou pai pela primeira vez o choro gera muita ansiedade e a chucha permite, simultaneamente, tranquilizar o bebé e tranquilizar os pais.
Mas será que os bebés gostam de chucha? Afinal, mesmo com todas as evoluções, é um objecto estranho, de borracha ou silicone, frio e pouco maleável. Mas é uma imitação da mama materna e, por isso, a aceitam. À falta de melhor – e porque nem sempre a mama está disponível e nos primeiros tempos é uma trapalhada levar as mãos à boca – aceitam-na e assim satisfazem o instinto de sucção. Nem todos, porque há bebés que rejeitam a chucha e outros que acabam vencidos pela insistência.
É uma tentação oferecer a chucha a um bebé. E uma tentação compreensível à luz da complexidade de emoções e da multiplicidade de tarefas com que os pais são confrontados nos primeiros tempos. É uma forma de acalmar o bebé, de ganhar tempo para o amamentar ou mudar a fralda.
O risco da introdução precoce
A chucha tem essa vantagem inegável de acalmar o bebé. Mas também tem desvantagens e há que ponderar os prós e os contras. Um dos riscos que se corre prende-se com a introdução precoce: se oferecida ao bebé logo após o nascimento pode interferir com a amamentação.
É certo que a sucção é inata e que a mama é o meio mais natural para satisfazer esse reflexo: porque é através dela que o bebé obtém alimento e, ao mesmo tempo, conforto. Contudo, por mais inato que seja, é preciso tempo para o bebé se adaptar ao mamilo da mãe. Se lhe for dada de imediato a chucha, ele pode ficar confuso: é que os modos de sucção são diferentes.
Mamar exige um esforço maior do que chuchar, pelo que, se habituado cedo à chucha, o bebé pode atrapalhar-se e não conseguir retirar leite suficiente da mama.
O cheiro e a textura da chucha também podem confundir o bebé na hora de trocar a chucha pela mama. Além de que um bebé habituado à chucha pode pedir mama menos vezes: é que está tão entretido que se "esquece" de comer…
Quer o dedo, quer a chucha têm um reconhecido poder calmante. Mas a chucha, por não ser natural, não deve constituir o primeiro recurso: o conselho dos pediatras vai no sentido deos pais resistirem e usá-la como última escolha. Perante o choro, há que procurar identificar a causa e consolar o bebé com atenção e carinho, confortando-o com mimos, massagens suaves, colo.
Desta forma, fortalecem-se os laços entre pais e filhos e previne-se o risco de dependência. É que há bebés verdadeiramente viciados na chucha e que prolongam este hábito muito para além do aconselhável – os dois, três anos. Deixar a chucha pode ser então um processo difícil. O ideal é que a iniciativa seja da criança, sem pressões dos pais. Mas, quando isso não acontece, há que recorrer a algumas estratégias, reduzindo aos poucos a dependência e preparando a criança para o facto. Os estímulos ajudam: as crianças são sensíveis ao argumento de que já são crescidas e, por isso, está na altura de deixar a chucha.
Mas podem retroceder se, pelo contrário, lhes disserem que ainda são bebés porque usam chucha.
Em torno da chucha, não há unanimidade. Usá-la com conta, peso e medida parece a melhor solução. Para evitar que a chucha se torne um reflexo tão instintivo para os pais como chuchar é instintivo para os bebés…
Escolhas seguras
Se a decisão dos pais for no sentido de introduzir a chucha, é importante que a segurança seja o critério número um na escolha e na utilização.
Assim:
• A chucha deve ter um tamanho adequado à boca do bebé;
• Deve ser constituída por uma peça única;
• A protecção (parte mais rígida) deve ter uma dimensão que impeça que o bebé ponha a chucha toda na boca e deve ter furos, de modo a permitir a respiração;
• A tetina do biberão não deve ser usada como substituto da chucha;
• Se a chucha tiver corrente, esta deve ser curta, para que não se enrole à volta do pescoço do bebé;
• A corrente não deve ser presa à cama, pois o risco de acidente é real;
• A chucha deve ser mantida limpa;
• E deve ser substituída regularmente.
Prós & Contras
A discussão em torno do uso de chucha não é pacífica. Estão identificados argumentos a seu favor e outros contra.
Por um lado, a chucha:
• Acalma os bebés mais inquietos – em situações em que os pais não podem responder de imediato;
• Ajuda a adormecer – o movimento de sucção induz o sono;
• Reduz o risco de morte súbita do lactente – há estudos que estabelecem essa relação;
• É um hábito temporário, podendo ser controlado pelos pais.
Mas, por outro:
• Pode interferir com a amamentação se for introduzida precocemente;
• Gera dependência – deixar a chucha pode ser difícil;
• Parece aumentar o risco de otites – há estudos que apontam nesse sentido;
• Pode atrasar o desenvolvimento da linguagem;
• Pode provocar deformação dentária se se prolongar demasiado;
• É uma fonte de germes, pois é tocada por várias mãos e cai facilmente.
Fonte: FARMÁCIA SAÚDE- ANF